Antes de começar...

Antes de começar...
O que saber antes de contratar um arquiteto ou designer

Do nanquim à realidade virtual... (artigo atualizado)



A arquitetura é nossa forma de expressão há mais de 25 anos...

Somos da geração que nasceu e cresceu analógica, estudou em bibliotecas, viajava de ônibus por dias para visitar feiras de construção, pois só aconteciam em grandes centros urbanos.

Passamos a faculdade inteira desenhando à mão na prancheta, com nanquim no papel vegetal, movimentando régua paralela e jogos de esquadros, escrevendo com normógrafo e quebrando a cabeça para compreender as proporções somente ao mudarmos de escala.

Correções só um sofrimento, aliviado pelo uso paciente de lâminas de barbear...

Composições eram vistas através do uso de lápis de cor, canetinha ou aquarela, projetar era uma arte no sentido gráfico também.

Aprendemos a resolver o projeto em três dimensões em nossa cabeça, expressando nossas ideias através de perspectivas feitas também à mão livre ou com pontos de fuga, habilidade que agilizava muito as resoluções de última hora no canteiro de obras.

Quando dominamos a arte de medir qualquer objeto ou espaço com a trena tradicional (sem cortar o dedo ao recolher a fita), acostumamo-nos rapidamente com a agilidade da trena a laser.

Usávamos a criatividade para medir os cantos em busca de seus ângulos não retos, fazíamos regras de três, fotografávamos as obras na mente porque era dispendioso investir filmes de rolo para registrar tijolos ou canos expostos.

Se as ferramentas mudaram, tal evolução não deixou imunes os clientes...

O cliente se esforçava para entender o projeto para reduzir riscos de retrabalho, mesmo sendo desenhos muito mais visualmente técnicos que os 3D realistas de hoje em dia.

A obra era palco de pequenos ajustes e as definições iam surgindo conforme a evolução da execução, respeitando-se as etapas aparentemente seguros de cada escolha feita.

Era preciso confiar mais no profissional, o cliente expressava sua surpresa com as formas sendo criadas na obra, confessando em silêncio que não havia entendido efetivamente a proposta ou orgulhando-se de tê-la compreendido totalmente.

Os fornecedores também mudaram...

Eram menos receptivos às inovações, mais machistas, preferiam o conforto das soluções já testadas em outras obras, com frequência lhes apresentávamos novos materiais, exigindo a redação de manuais de utilização.

Foram muitas as vezes em que pedreiros tentavam boicotar nossos projetos diante dos clientes, dizendo que algo proposto não iria funcionar por puro desconhecimento.

Em certa obra, distante cerca de 160km do escritório, tivemos que levar em nosso carro um vaso sanitário com saída horizontal, solução adotada para a criação de um lavabo sem ter que fazer um degrau, pois o pedreiro queria furar um assoalho de madeira centenário por desacreditar desta nova solução.

Vivemos anos sem ter celular ou internet, realidade que parece impossível para muitos mesmo em nossa geração, quando surgia algo urgente, ligávamos no telefone fixo do escritório, mas compreendíamos tranquilamente se o arquiteto havia saído e esperávamos quando pudesse retornar.

Quando os celulares começaram a ser adquiridos, era somente para falar ao telefone, não compartilhavam imagens, e demorou um pouco mais até que todos os fornecedores usufruíssem dessa tecnologia que atualmente é tão comum.

Eram dias em que os ponteiros do relógio giravam mais devagar...

Ainda guardamos várias dessas ferramentas, como um carinho à memória afetiva que nos proporcionaram e motivo de boas risadas diante da surpresa das novas gerações, assim como resistiram ao tempo os últimos rolos de papel sulfurize e vegetal, ferramentas que nos ligam a esse passado distante...

O escritório tem menos papel, os arquivos são digitais, as impressoras quase secam seus cartuchos pelo pouco uso, reflexo do compartilhamento em pdf ou jpg para os celulares tanto de clientes quanto fornecedores.

O imaginário dos envolvidos deu lugar à imagens realistas, vídeos em que o cliente se sente andando pelo espaço ainda não existente.

Os sonhos cresceram, não em valor somente, mas em variedade. Queremos a casa linda e funcional, mas também nosso ambiente de trabalho, desejamos desbravar o mundo, experimentar novos sabores, as roupas, eletros e carros não duram mais o mesmo tempo, tudo fica facilmente obsoleto, até nossa imagem, nosso conhecimento.

O processo de criação mudou e muito em pouco tempo, manter-nos atualizados em todas as esferas se tornou um desafio constante!!

Transitamos por variadas formas de projetar, sinal da evolução constante das ferramentas de trabalho e das possibilidades cada vez maiores de materiais e soluções.

De clientes leigos migramos para clientes visuais, da confiança até mesmo cega, para a dúvida persistente diante das tantas opções que o mercado oferece, apesar de terem à mão muitos exemplos da internet que referenciam, exemplificam e validam seus gostos, estilos e ideias.

A obra edificada deixou de ser surpresa e por isso o olhar do cliente voltou-se aos acabamentos, aos detalhes, na busca da perfeição inalcançável.

A pressa fez com que a execução dos projetos seja mais urgente e a tolerância ao erro reduziu, refletindo as mudanças impostas à sociedade pelo novo cenário, de mensagens instantâneas, respostas na ponta dos dedos, informações infinitas e capacitações superficiais disponíveis a todos os envolvidos.

Evoluímos sob muitos aspectos, mas continuamos seres humanos em busca de evolução...

Os desafios permanecem, com novas roupagens!!

Seguimos aprendendo, testando, criando, na eterna busca pela qualidade do espaço construído, aproveitando o caminho para aprimorar todo o processo que entre o sonho e a realidade...






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